Éter do desejo até o limite do terror!

Todo mundo preparado? Começa, 2006! Este é novo espaço, terra da infâmia, da diablerie, do inominável. Éter do desejo até o limite do terror. Este ato primal, a postagem nº1, vai falar diretamente ao coração dos inauditos.

E quem fala?

Aquele que fala é Roberto Piva, poeta Xamã, de quem usurpei o titulo deste blog: “Praça da República dos meus sonhos”. Jamais percebi tanta beleza em um único título, tanto desejo, negativa e frustração. Estive na Praça da República da realidade no último domingo, dia 15. Transitei entre o vero e a poesia e dei uma bela olhada no poeta de bronze.

Quase chorei.

A foto que ilustra o blog foi tirada naquela ocasião. O Mato cobre o moribundo, o fedor corrói o moribundo, a cidade não sabe quem é aquele.

Tremei...

PRAÇA DA REPÚBLICA DOS MEUS SONHOS*

A estatua de Álvares de Azevedo é devorada com paciência pela paisagem de morfina
A praça leva pontes aplicadas no centro do seu corpo
E crianças brincando na tarde de esterco
Praça da República dos meus sonhos
Onde tudo se fez febre e pombas crucificadas
Onde beatificados vem agitar as massas
Onde Garcia Llorca espera seu dentista
Onde conquistamos a imensa desolação dos dias mais doces
Os meninos tiveram seus testículos espetados pela multidão
Lábios coagulam sem estardalhaço
Os mictórios tomam um lugar na luz
E os coqueiros se fixam onde o vento desarruma os cabelos
Delirium Tremens diante do paraíso
Bundas glabas sexo de papel
Anjos deitados nos canteiro cobertos de cal
Água fumegante nas privadas
Cérebros sulcados de acenos
Os veterinários passam lentos, lendo Dom Casmurro
Há jovens pederastas embebidos em lilás
E putas com a noite passeando em torno de suas unhas
Há uma gota de chuva na cabeleira abandonada
Enquanto o sangue faz naufragar as corolas
Oh minhas visões
Lembranças de Rimbaud
Praça da República dos meus sonhos
Última sabedoria debruçada numa porta santa.

*ROBERTO PIVA